Semana Santa: um caminho de fé



Para este penúltimo domingo do mês, o de Ramos da Paixão do Senhor, dom Adimir Antonio Mazali, bispo diocesano de Erexim, assina artigo e faz uma reflexão sobre o início da "Semana Maior da Igreja". Com o coração aberto, convide ele, "participemos das celebrações em nossas comunidades, fortalecendo nossa fé e a esperança na ressurreição de Jesus, bem como, a certeza de que em Cristo Ressuscitado, somos todos irmãos e irmãs".










Dom Adimir Antonio Mazali*


A Quaresma convidou-nos a voltarmos para o Senhor de todo o coração. Depois de cinco semanas de preparação para a Páscoa, convidados a viver mais intensamente a oração, a penitência e a caridade, com o Domingo de Ramos entramos na Semana Santa, a Semana Maior do Ano Litúrgico, semana em que celebramos o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.

Prezados irmãos e irmãs. Conforme os Evangelhos Sinóticos - Mateus, Marcos e Lucas -, Jesus iniciou seu ministério na Galileia. Depois de morar “mais ou menos trinta anos” (Lc 3,23) em Nazaré, Jesus foi batizado por João Batista, no Rio Jordão, fez um retiro de quarenta dias e quarenta noites no deserto, se preparando para a missão. No deserto foi tentado pelo demônio, venceu as tentações e depois retornou para Nazaré afim de iniciar sua missão. Ao iniciar a missão, foi expulso de Nazaré (Lc 4,28-29). Com isso, foi morar em Cafarnaum (Lc 4,31; Mt 4,12-13), cidade próxima ao Mar da Galileia, de onde exerceu sua missão com o povo da Galileia, a região norte da Palestina. Lá constituiu o grupo dos Doze (Mc 3,13-19), que passaram a viver e caminhar com Ele por todos os lugares onde ia, curou muitas pessoas doentes, paralíticos, cegos, libertou muitos possessos, ensinou aos discípulos e a todas as pessoas a dinâmica e a lógica do Reino de Deus. Jesus andou por todos os lugares “fazendo o bem” (At 10,38) e “fez bem todas as coisas” (Mc 7,37).

Ao concluir sua missão na Galileia, Jesus “tomou decididamente o caminho para Jerusalém” (Lc 9,51), para anunciar a Boa Nova do Reino de Deus também ao povo que encontrasse pelo caminho e aos habitantes da capital, Jerusalém. Jesus, acompanhado de seus discípulos, foi um missionário itinerante. Entendia que sua tarefa era “fazer a vontade de Deus Pai” (Jo 4,34). Em seu ministério, Jesus foi constantemente perseguido, sobretudo pelas autoridades religiosas. A perseguição foi uma das marcas da trajetória de Jesus.

Caríssimos irmãos e irmãs. A Liturgia da Palavra deste Domingo de Ramos inicia com o Evangelho que descreve a chegada de Jesus em Jerusalém (Mc 11,1-10). Jesus estava acompanhado de seus discípulos, e estes estavam com muito medo, pois ele os havia alertado a respeito da perseguição que iria sofrer. Jesus, “o rei dos judeus”, chegou montado num jumentinho, como havia profetizado Zacarias: “Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho” (Zc 9,9). Significa que esse rei é pacífico, manso e humilde de coração (Mt 11,28-30). Além disto, o rei dos judeus e Filho de Deus é inocente. As falsas testemunhas não encontraram provas contra ele. Em sua entrada em Jerusalém, “muitos estenderam suas vestes pelo caminho, outros puseram ramos” e cantavam “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mc 11,8). Os pobres de Jerusalém o acolheram com alegria.

O Apóstolo Paulo, na Carta aos Filipenses (2,6-11), revela a espiritualidade que orientou a vida e os passos de Jesus. “Sendo de condição divina, Jesus esvaziou-se a si mesmo, assumiu a condição humana, tornando-se igual aos homens e, como homem, fez-se servo, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte e morte de cruz”. O preço da encarnação foi a cruz. A cruz foi a consequência de sua fidelidade ao plano de Deus Pai.

Estimados irmãos e irmãs. Tudo isso celebramos na Semana Santa. Com o Tríduo Pascal mergulhamos no Mistério Pascal de Cristo, seu esvaziamento total. Na Quinta-feira Santa celebramos a Última Ceia. Com ela Jesus deu as últimas recomendações aos Doze antes de sua morte na cruz. Na instituição da Eucaristia, Jesus se fez alimento para fortalecer os discípulos na fé e na missão. Ao lavar os pés dos Apóstolos, Jesus mostrou a eles que o espírito de serviço deveria ser o modo de vida de todos eles.

A Sexta-feira Santa convida-nos a mergulharmos no mistério da morte de Jesus. Desta surge dois questionamentos: 1º) Por que mataram Jesus? É a pergunta pelas causas da morte de Jesus. Os Evangelhos mostram que a pregação e a prática de Jesus representavam uma ameaça ao poder constituído. As causas da perseguição e morte de Jesus são, no fundo, as denúncias de Jesus contra o poder opressor. A perseguição e morte de Jesus na cruz ocorreu porque ele propunha um projeto de vida e de sociedade alternativo, incluindo a todos: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

2º) Por que Jesus morreu? É a pergunta pelo sentido de sua morte, de seu martírio! Na cruz não morreu qualquer ser humano, mas o próprio Filho de Deus. De acordo com o Novo Testamento, é pela cruz de Jesus que Deus nos salvou do pecado. O bem que Deus traz através da cruz é a salvação, ela é a expressão maior do amor de Deus: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho” (Jo 3,16); “Deus enviou seu Filho ao mundo, não para julgar o mundo e sim para salvar o mundo” (Jo 3,17).

Por isso, com o coração aberto, participemos das celebrações em nossas comunidades, fortalecendo nossa fé e a esperança na ressurreição de Jesus, bem como, a certeza de que em Cristo Ressuscitado, somos todos irmãos e irmãs.

* Bispo Diocesano de Erexim – RS

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