Amazônia: num barco, a esperança e a consolação de Cristo

Nas margens do rio Amazonas, um barco atende as exigências sanitárias e espirituais de cerca de 5.200 pessoas. Vamos conhecer a experiência missionária da irmã Márcia Lopes Assis na região de Juruti-Pará, na floresta amazônica do Brasil.



A irmã Márcia Lopes Assis, da Congregação das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, desempenha a sua atividade pastoral na paróquia de Nossa Senhora da Saúde, em Juruti-Pará do Baixo Amazonas, pertencente à diocese de Óbidos, no Brasil. Ela afirma que a sua «vocação é missionária desde o início» e, ao longo do seu caminho, o bom Deus sempre a surpreendeu em cada experiência de missão que lhe permitiu viver:

«Todas foram experiências extraordinárias e intensas, e estou muito grata por elas. Juruti não é diferente, representa uma experiência maravilhosa que me permitiu redescobrir a essência da minha vocação e do carisma da nossa fundadora, que trago dentro de mim. Aqui, a casa não assume as conotações que tem noutros lugares, onde a imaginamos como algo estático, que satisfaz todas as nossas necessidades e onde estamos ao abrigo dos perigos externos. Aqui, a casa pode estar num barco a remos ou numa rede amarrada a uma mangueira, na rua, debaixo de um toldo aberto ou até dentro da própria sacristia».
As crianças, as melhores mestras

A religiosa com as crianças da Ilha de Santa Rita, na Amazônia brasileira

A consagrada desempenha várias atividades, entre as quais, a de consultora do Conselho Missionário Paroquial (Comipa), pastoral que abrange a exortação do Papa Francisco a ser “Igreja em saída”, Igreja missionária. O objetivo do Comipa é atender as 78 comunidades que compõem o setor paroquial, especialmente as mais distantes, frágeis e carentes, que ficam a mais de 60 km de distância.

Atravessar o rio Amazonas, comenta a irmã Márcia, «não é uma tarefa fácil. Quando chegamos à comunidade de Santa Rita, fui recebida pelas crianças, muito tímidas e assustadas com a chegada de um estranho, mas depressa fizemos amizade. Algumas têm medo porque pensam que sou enfermeira ou dentista; outras dizem que sou professora, mas quase todas ficam encantadas, permanecem perto de mim, dizem que também elas serão religiosas quando crescerem».

Em sinal de agradecimento, as crianças propuseram à religiosa ensinar-lhe a remar. «Nas crianças, encontrei as melhores mestras», acrescenta.
Desafiar a natureza

Um dos numerosos desafios apresentados pela região onde a irmã Márcia desempenha a sua missão é o problema da “terra caída”, ou seja, ilhas que desapareceram devido à força constante das águas. Isto faz com que algumas casas fiquem submersas e muitas famílias devem transferir-se até que o nível da água volte a diminuir. Estes eventos fazem com que a educação não siga o calendário civil, mas o calendário das águas. As crianças vão à escola de barco.

Dormir numa rede ao som da água do rio, não dispor sequer de um telemóvel, entre outras experiências, ajudaram a consagrada a experimentar a compaixão e a aprender uma grande lição: «Aceitar as coisas tal como elas são», e dar graças pelo testemunho de força, esperança e resiliência das famílias.
Um barco portador de esperança

A irmã Márcia faz parte do grupo de 35 colaboradores que navegam no “Barco Hospital Papa Francisco”, entre os quais 10 médicos, 2 dentistas e um sacerdote, frei Alfonso Lambert. É uma casa de hospitalidade, de luta, de defesa da vida, de evangelização, de simplicidade e de amor.

O dia no barco começa muito cedo, com a celebração da missa. Depois, os especialistas visitam as pessoas com base nos vários problemas de saúde. «Dedico-me ao acolhimento das famílias, à evangelização das crianças, ao acompanhamento dos doentes após uma intervenção cirúrgica ou às visitas, quando não se podem deslocar. Distribuo a Eucaristia aos enfermos», diz a irmã Márcia.

Durante as expedições, assistiram cerca de 5.200 pessoas e, em certos casos, até realizaram cirurgias mais simples: alguns doentes estavam à espera havia oito anos. Na sua viagem, visitaram a área de Aritapera e a região indígena de Mamuru. «Podemos fazer uma analogia entre o Barco Hospital e Jesus: assim como levavam todos os doentes a Jesus para serem curados, o mesmo acontecia em relação ao Barco Hospital», frisa a irmã Márcia. Naquela época, a religiosa experimentou uma Igreja samaritana que oferecia os cuidados do amor.

«Há um propósito que dá sentido ao estar onde se está e ao fazer o que se faz. Que ninguém nos impeça de constituir uma missão onde a Providência nos coloca, e que o amor seja o motor de tudo», conclui a religiosa.

A Ir. Márcia leva a comunhão aos doentes na Ilha de São Sebastião



Débora Evangelina Vargas

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